JUDEUS
E CABO-VERDIANOS DE ORIGEM JUDIA MARROQUINA E DE GIBRALTAR NA IMPRENSA
CABO-VERDIANA DO SÉCULO XX
Pela análise da imprensa periódica do século XX, ainda a
decorrer, é possível constatar a progressiva integração na sociedade
cabo-verdiana das famílias de origem marroquina e de Gibraltar que se fixaram
no arquipélago. Desde logo, pela maior diversidade da actividade económica, e,
na 2ª geração, já de portugueses nascidos em Cabo Verde, pela assunção de diversos
cargos em comissões, juntas, e organismos diversos, cujo real peso na sociedade
das ilhas importará apreender. Alguns chegaram a assumir o cargo de
administradores de concelho e Bento Levy foi o primeiro a integrar o Conselho
de Governo, durante a Iª República. A nível da função pública colonial, vedada
aos estrangeiros, na 2ª geração, dos nascidos em Cabo Verde, há poucos casos, tratando-se
sobretudo de professores primários e funcionários dos Serviços Aduaneiros e dos
Correios.
O “Boletim
Oficial da Província de Cabo Verde,” cuja consulta vai na década de 30 do
século XX, é particularmente rico em dados, que, dada a sua profusão, importará
organizar numa base de dados, de molde a facilitar a sua consulta e análise. Foram
identificados 86 indivíduos, cujos nomes seguem na lista abaixo, e elementos
relativos à vida económica, e a diversos outros aspectos.
ASSIM, FORAM INDENTIFICADOS DADOS SOBRE:
José
Benholiel, Bento Levy, Benjamim Alves, Marcos Cagy, David Ben’Oliel, Domingos
Seruya, J.A. Levy, Veríssimo Wahnon, Izaac Athias, Moyses Levy, Leão Benroz, Isaac
Pinto, Leopoldina Hidalgo Carrera Athias, Salomão Ben David, Abraham Julião
Brigham, Isaac Wahnon, Jacob Wahnon, Isaac Augusto Ezaguy, José Monteiro Levy, Jayme
Monteiro Levy, Álvaro Monteiro Levy, Salvador Levy, D. Justa Azulay Silva, Theodorico
Seruya, Theodoro d’Oliveira Almada (?), Moses Zagury, Fernando Wahnon, Isaac Ben’Oliel,
Júlio Bento d’Oliveira, D. Rachel Levy, Raphael Moysés de Oliveira, Rodolpho
Benroz, Raphael Anahory, Salomão A. Ben’Oliel, Augusto Ben David, Maria da
Conceição Pinto Wahnon, Júlia Pereira da Silva Azulay, Maria Benholiel Lopes da
Silva, Carlos Bento d’Oliveira, José Julião Brigham, Salomão Joseph Abithbol, Elysa
Levy Bentubo Santos, David Jacob Cohen, Manoel Azulay, Salomão Tavares
Benchimol, Daniel Wahnon, Naturino de Mello Alves, Leão Benholiel, Wenceslau
Ramos Levy, Octavino de Mello Alves, Daniel D. Cohen, Jayme Wahnon, José
Anahory, Maria Faria Anahory, Mery Benholiel Levy, Simy Benholiel de Carvalho, Rachel
Benholiel, Simão Benholiel, Maria do Carmo Mosso Benholiel, Júlio Benahim Lima,
Marcos Julião Brigham, Camila Wahnon Brigham, Ernesto Lima Wahnon, Emília
Benchimol Lopes, Fortunato Monteiro Levy, Afonso Benrós, Filomena Pereira
Azulay, Mário Avelino Melo Alves, Adelaide Benrós Sousa, António Benrós Sousa, Afonso
Benrós Sousa, Artur Levy Gomes, Rafael Ramos Levy, Maria da Piedade Leite
Santos Silva Wahnon, Clarisse Wahnon, Jorge Wahnon Jr., Emílio Firmino Benrós, Belarmino
Firmino Benrós, Fulgêncio Anahory Silva, Jacob Wahnon Jr., António Levy Bentubo,
Dêa Ben David, Alexandre Benoliel de Carvalho, José Andrade Brigham, Maria da
Luz Benahim Leite, Elizeu David Cohen.
Na imprensa privada cabo-verdiana do século XX, encontram-se
também muitos dados sobre diversos membros das famílias Levy, Alves, Wahnon,
Athias, Benoliel, Benahim, Esaguy, Benrós, Anahory, Brigham, Levy Bentubo,
Cohen, Serruya, Abitbol, Azagury, Ben David, Azulay e Pinto. No século XX,
radicaram-se algumas famílias judias de origem asquenaze, da Europa de Leste,
sendo as mais conhecidas a Kahn e Schofield. Contudo, terá havido outras
famílias a viver durante algum tempo no arquipélago durante a Segunda Guerra
Mundial. Estas famílias conviviam com as de origem marroquina e de Gibraltar.
Na imprensa
privada havia normalmente uma coluna social, onde eram noticiados os nascimentos,
aniversários, casamentos, pedidos de casamento, doenças, falecimentos, festas
várias, incluindo bailes de Carnaval, “reuniões elegantes,” banquetes, bailes
de fim d’ano e as diversas viagens que os membros destas famílias faziam entre
as ilhas ou para Portugal, atestando assim a sua ascenção à elite
socio-económica de Cabo Verde. Nas 2ªs e 3ªs gerações, pela análise dos
apelidos compostos, vê-se a associação por casamento com famílias de origem
portuguesa, como por exemplo, Monteiro Levy, Barbosa Levy, Brigham Neves,
Brigham Gomes, Benoliel Lopes da Silva, Benoliel de Carvalho, Anahory Silva,
Cohen Leite, Cohen Lopes da Silva, Benahim Leite e outras.
Há também dados
de outra ordem, nomeadamente, os resultados escolares das crianças e jovens
destas famílias, as nomeações para cargos públicos, os cargos assumidos na
sociedade civil, tanto nas Associações Comerciais e Agrícolas do arquipélago,
como em associações recreativas e desportivas ou em comissões várias, anúncios
de palestras ou ainda, subscrições de cartas dirigidas às autoridades e
donativos a pobres ou em consequência de catástrofes. Há também anúncios das
casas comerciais e referências às actividades económicas e litígios. Há
diversas referências à exportação de café, mas também a empresas de navegação,
sendo que as casas comerciais vendiam uma grande diversidade de produtos.
Desde a geração
dos filhos, alguns ascendem ao cargo de administradores de concelho, ainda que
por vezes substitutos, outros a presidentes de câmara municipal e até a vogais
do Conselho do Governo da então província ultramarina. Nota-se que entre os
netos, alguns têm acesso ao ensino superior na então metrópole, e Bento
Benoliel Levy é eleito deputado por Cabo Verde na Assembleia da República
Portuguesa.
Nos jornais “O
Arquipélago” e “Cabo Verde, Boletim de Propaganda e Informação,” há dezenas de
artigos de autoria de Bento Benoliel Levy e de Orlando Barbosa Levy, mas também
poemas de Terêncio Anahory Silva e alguns artigos de Francisco Benoliel Lopes
da Silva, Aníbal Cohen Lopes da Silva e Júlio Bento de Oliveira (da família
Abitbol).
- Ângela Sofia Benoliel Coutinho, 6 de Fevereiro 2016
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